sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Entrevista lançamento (jornal O Povo)

Entrevista a Érica Azevedo, jornal O Povo, )

- Já sabemos que o livro partiu de uma tese de doutorado sua (em que área?). E a idéia de transformar essa tese numa narrativa em primeira pessoa, uma leitura decerto mais suave para o público em geral, estava nos seus planos?

Brasileiros nos Estados Unidos: Hollywood e Outros Sonhos é uma versão revisada da minha tese de doutorado em Antropologia, na Universidade da Califórnia, Riverside. Também mudei o título, que era, originalmente, Brazilians in Los Angeles: Immigration, Imperialism and Social Class [Brasileiros em Los Angeles: Imigração, Imperialismo e Classe]. Na verdade, a narrativa em primeira pessoa é original. É uma tradição da Antropologia. Mais o texto claro, ao qual o meu editor se refere na orelha do livro, é uma característica da minha escrita, independentemente de eu estar escrevendo poemas, artigos para jornais ou artigos científicos.

- Em que ano o livro foi lançado nos EUA? Como foi a repercussão?

A história deste livro é engraçada. Logo após a defesa da tese, em março de 2000, eu voltei ao Brasil, para reassumir a minha função de professora da Faculdade de Educação da UFC. Foi um período muito difícil: eu estava me divorciando e tanto eu como meus filhos estávamos tendo muitas dificuldades na readaptação a Fortaleza. Na defesa da tese, o meu orientador, Michael Kearney, propôs-me escrever um pequeno texto de apresentação do manuscrito, que ele encaminhar às editoras com que ele tinha alguma relação. Mas eu estava tão desestimulada na minha volta e achando tudo tão complicado e difícil que nunca escrevi o que ele pediu. De certo modo, mas meio irracionalmente, eu atribuía aquelas dificuldades de readaptação à nossa “americanização”. Então, tudo que eu mais queria naqueles primeiros meses era esquecer toda a minha história em Los Angeles, inclusive a tese, que eu tivera a oportunidade de apresentar em várias palestras e conferências antes de voltar. Aqui, no Brasil, tentei me articular com outros estudiosos da imigração brasileira nos Estados Unidos, mas não fui muito feliz. Resolvi desistir do tema e comecei a pesquisar outras coisas: turismo e imigração no Ceará, racismo na escola, etc. Em fevereiro de 2002, recebi um email de Leo Balk, o editor que produziu meu livro nos Estados Unidos. Ele me pedia permissão para submeter o meu manuscrito aos seus pareceristas. Concordei. Uns seis meses depois, ele me enviou o parecer, favorável, e um contrato de publicação. Os pareceristas me pediram para reduzir umas 60-80 páginas e atualizar alguns dados. Um ano depois o livro já estava no catálogo da LFB Scholarly Publishing e na amazon.com, a maior livraria virtual do planeta. Era uma edição cara, custava 65 dólares e se destinava, como eu disse, às bibliotecas. Apesar disto, imediatamente comecei a ser convidada para dar palestras em conferências que discutiam imigrantes nos Estados Unidos. Fui para São Domingos, em 2003. Los Angeles e Miami em 2004. Mas acho que foi a minha participação como conferencista na I Conferência Nacional sobre Brasileiros nos Estados Unidos, promovida pela Universidade de Harvard, em março do ano passado, que tornou o meu trabalho mais conhecido de um maior número de estudiosos da área. Como o livro gerou certa demanda pela minha interpretação do fenômeno, decidi concorrer a uma bolsa de pós-doutorado e estou indo, agora, em agosto próximo para uma temporada de um ano de estudos bibliográficos e pesquisas em Chicago. Em síntese, a publicação teve bastante consequências positivas.

- No Brasil este é o primeiro lançamento? Quais suas expectativas para este lançamento? Qual o roteiro para o lançamento do livro em outras capitais?

Fortaleza é o primeiro lançamento. A minha expectativa é bastante otimista. É muito bom poder ter uma edição em português. É bom que os meus alunos e colegas possam conhecer este estudo. Para mim, é como se o livro estivesse sendo finalmente publicado. A edição em inglês parecia não fazer parte deste mundo. Já recebi comentários de leitores brasileiros. São também bastante favoráveis. Recebi, na semana passada, uma resenha escrita pelo professor Sérgio Schaefer, da UNISC, Rio Grande do Sul. Infelizmente, em função da minha viagem próxima para Chicago, somente vou lançar o livro em João Pessoa, na Paraíba, meu estado natal, e em Brasília. Mas, considerando que as outras duas editoras parceiras da publicação estão localizadas em São Paulo e Santa Cruz do Sul, não creio que haverá dificuldades maiores de divulgação e distribuição.


- É impossível ler a resenha do seu livro e não lembrar da novela da Glória Perez, América, exibida pela Rede Globo em 2005. Como a senhora avalia a perspectiva dada ao tema no folhetim em relação à sua obra?

Eu acho que a maior diferença é a das características de cada uma das obras: a dela, de ficção e a minha, acadêmica, científica. Mas há outras diferenças: o meu é um trabalho mais crítico e o dela mais ideológico, começando pelo título. Ela confirma no título América a pretensão dos estadunidenses de senhores do continente inteiro, afinal, são os únicos que se nomeiam pelo nome do continente, enquanto nós, os outros, somos brasileiros, argentinos, etc. Ela poderia criar uma ficção mais próxima da realidade, mas acho que ela preferiu optar pela alimentação dos estereótipos o que, afinal, é uma solução mais fácil e, claro, também revela os limites do seu conhecimento da realidade da integração imigrante brasileira nos Estados Unidos.


- Os imigrantes brasileiros nos EUA lendo o seu livro têm uma ótica bem próxima à realidade deles. Brasileiros que voltaram de lá, lendo o seu livro têm uma ótica que os lembra momentos vividos no estrangeiro. E para os brasileiros que querem morar nos EUA, que expectativa teriam lendo a narrativa?

Na verdade, a realidade que o meu estudo abrange é muito particular. É a do sul da Califórnia, grande Los Angeles, região onde a população de imigrantes brasileiros é muito pequena, especialmente quando comparada a Nova Iorque, Boston e Miami, que concentram aproximadamente 80% desse fluxo migratório. Por exemplo, em 5 anos vivendo na grande Los Angeles foi apenas uma ou outra vez que ouvi casualmente pessoas falando em português. Agora, em março, que fiquei como professora visitante na Universidade de Bryant e me hospedei em Framingham, cidade da grande Boston que tem umas das maiores populações de brasileiros nos Estados Unidos, ouvia o português constantemente e não apenas em vizinhanças brasileiras, em todo lugar! Nos shoppings, restaurantes, supermercados. É uma experiência completamente diferente da de Los Angeles.


- Mesmo com todas as dificuldades que ainda existem em atravessar a fronteira dos EUA ilegalmente, por que mais e mais imigrantes ainda se arriscam na aventura?

Há várias razões, acho que as mais importantes são a nossa economia em crise e a atração pelo sonho do paraíso americano construído pela indústria cinematográfica de Hollywood. Do mesmo modo que todos os muçulmano sonham com Meca, todos os habitantes do planeta submetidos ao imperialismo cultural americano sonham, para o bem ou para o mal, com os Estados Unidos. É o centro do mundo depois da II Guerra Mundial. Eu argumento, no meu estudo, que a migração brasileira para os Estados Unidos hoje não se coloca no mesmo nível de necessidade que a migração sertaneja para Fortaleza no final do século XIX. Ou seja, migrar para os Estados Unidos não é uma questão de vida ou morte. As pessoas se arriscam porque se concentram mais nas histórias de sucesso que nas de fracasso. Acreditam que com a migração podem mudar sua vida mais facilmente do que se permanecessem no Brasil... Os próprios imigrantes brasileiros ajudam a alimentar tal visão independentemente de suas condições de vida. Contam somente o lado bom porque isto adiciona mais valor às suas experiências. Alimentam, assim, o colonialismo, o racismo e todas as ideologias da desigualdade.


- Na sua visão, por que tais aventureiros não arriscam "vencer na vida" aqui mesmo no próprio País? Que tão melhores chances existem em se aventurar numa terra desconhecida onde, praticamente, não se é bem vindo?

As pessoas preferem migrar porque é mais simples transformar apenas o rumo da própria vida do que o de uma sociedade inteira. Se o desejo de superar uma certa posição social ou familiar é muito forte e não pode se realizar na família, cidade ou país de origem, restam, além da emigração, o crime e o suicídio como alternativas. Por outro lado, os Estados Unidos não são exatamente o que podemos chamar de uma terra “desconhecida”. Ao contrário, sabemos mais sobre Los Angeles do que sobre Porto Alegre. Além disto, quem é benvindo e onde? Foram benvindos os sertanejos em Fortaleza? Os nordestinos em São Paulo ou Rio de Janeiro?


- Está em votação na Câmara dos Representantes nos EUA, um projeto de lei para regularizar os 12 milhões de cidadãos ilegais existentes do país. Quais as principais mudanças que a aprovação desta lei traria para os imigrantes ilegais nos EUA? Comente um pouco sobre esta possível novidade para os futuros imigrantes que desejem aportar no país.

Na verdade, o projeto de lei recentemente votado no Senado não tem como propósito a regularização da situação dos imigrantes ilegais. É mais abrangente e pretende, ao contrário, controlar mais eficazmente a imigração “indesejada.” Inclusive, no que se refere especificamente à situação dos imigrantes ilegais há grande discordância entre os projetos apresentados pela Câmara e pelo Senado, sendo o deste mais simpático à situação dos imigrantes ilegais, provavelmente já pressionado pelas manifestações do 1. de Maio contra o projeto proposto pela Câmara. Mesmo o projeto do Senado não propõe a legalização de todos os imigrantes ilegais. Eles serão classificados e diferentemente tratados em função do tempo de imigração. Por exemplo, a proposta de lei do Senado quer que todos os imigrantes ilegais que estão no país há menos de dois anos sejam imediatamente deportados. Os que estão além de cinco anos poderão ser anistiados e aqueles entre 2 e 5 anos terão seus casos tratados individualmente. Não é simples o problema e nem a solução. É possível, porém, que nem com a solução proposta pelo Senado todos concordem. Os ânimos anti-imigrantes, especialmente, anti-latinos estão muito fortes. Por outro lado, os latinos surpreenderam e mostraram sua força nas manifestações do 1. de Maio. Quanto aos potenciais imigrantes, é óbvio que o controle sobre a imigração ilegal tornar-se-à cada vez mais efetivo. Ou seja, a travessia ilegal tornar-se-à cada vez mais difícil.


- Uma mensagem para os futuros leitores. Se o que está na pauta é o desejo de migrar, acho que vale a pena conhecer a variedade de possibilidades que há. A experiência de transformação que a imigração desencadeia não se restringe à migração para os Estados Unidos. A possibilidade de sucesso financeiro não é também apenas oferecida pelos Estados Unidos... Ou seja, acho que os potenciais imigrantes devem avaliar com cuidado os riscos (custos) e benefícios das várias escolhas possíveis. Difícil é encontrar informação sobre o Sri Lanka no cinema hollywoodiano!

sábado, 20 de setembro de 2008

A vida longe de casa

William Costa para o Norte, 13 de julho de 2006)(Livro da antropóloga Bernadete Beserra revela o drama dos imigrantes brasileiros nos Estados Unidos. William costa Editor do Show. williamcosta@jornalonorte.com.br)

A questão da emigração de brasileiros rumo aos Estados Unidos é um problema social dos mais graves na história contemporânea dos dois países. Cativados pelo sonho de prosperidade econômica, centenas de patrícios colocam a vida em jogo tentando burlar os rígidos e sofisticados sistemas de controle de imigração estadunidense, principalmente após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Poucos são os que conseguem, se comparado com as muitas mortes, prisões e deportações. Mas a persistência é contínua, e o caldo literário e sociológico engrossa de tanto condimento trágico.O assunto seduziu e comoveu a antropóloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bernadete Beserra, transformando-se em tema do livro Brasileiros nos Estados Unidos: Hollywood e outros sonhos.

A obra foi publicada, inicialmente, nos Estados Unidos, onde despertou interesse por seu caráter pioneiro, e, hoje, será lançado, às 19h, na Fundação Casa de José Américo, na avenida Cabo Branco, 3336, com a presença do editor das Edições UFC, Luiz Falcão Lordelo. A autora e sua obra serão apresentados pelos professores Maria Cristina de Melo Marin e Fábio Henrique Souza.Brasileiros nos Estados Unidos é considerado um livro inovador, especificamente por ser um dos raros trabalhos produzidos por brasileiros que estudam outros países.

No livro, Bernadete apresenta um estudo original da imigração brasileira nos Estados Unidos, trazendo à lume conexões entre os fluxos migratórios e a expansão imperialista americana no Brasil. A partir de pesquisa etnográfica realizada com brasileiros residentes em Los Angeles, ela revela que é o contato direto ou indireto com a cultura americana que cria o sonho, ou melhor, a necessidade de viver nos Estados Unidos.A tese principal do livro, segundo Bernadete, é a de que os brasileiros, assim como outros cidadãos de nacionalidades diversas, migram para os Estados Unidos em conseqüência da aculturação produzida pela expansão do imperialismo americano no Brasil e no mundo. A autora alerta, no entanto, que esta não é uma conseqüência apenas abstrata."

A expansão do imperialismo exige a criação de redes efetivas entre os Estados Unidos e os outros países. No meu livro, eu estudo as redes produzidas pela expansão do adventismo do sétimo dia no Brasil e o fluxo migratório para os Estados Unidos decorrentes disto", acrescenta.Outro fator muito importante explorado pela autora diz respeito à instituição do casamento de americanos com brasileiras, o que ela chama de "imperialismo científico", caso daqueles, como ela mesma, que vão buscar qualificação e, finalmente, o caso de Hollywood, provavelmente um dos mais efetivos no sentido de difusão do American way of life.

"A minha tese, portanto, afirma que é o contato direto ou indireto com a cultura americana que cria o sonho ou a necessidade de migração e não apenas a crise econômica brasileira ou necessidades exclusivamente econômicas do imigrante", completa.O fato preponderante que levou Bernadete a se interessar pela questão da emigração de brasileiros para os Estados Unidos foi a sua própria experiência de estudante de doutorado que a levou a indagar sobre as dificuldades gerais da integração imigrante brasileira naquele país. "No início é um sofrimento muito grande, a exemplo da língua que não dominamos, e mil outros aspectos de um modo de vida diferente do nosso que precisamos aprender. A atração/rejeição inicial é muito grande. Então, tudo isto era tema de conversa constante na minha família e entre amigos do Brasil e de outros países", esclarece.

Bernadete revela que foi relativamente fácil eliminar os rigores do texto acadêmico para tornar o livro acessível ao público leigo, pois, em geral, escreve com facilidade. Ela está acostumada ao público de jornais porque escreve crônicas ou ensaios políticos eventuais para o jornal O Povo e outros periódicos. "É possível que aqui e ali o leitor leigo tenha alguma dificuldade. Por exemplo, quando explico a economia política da migração e integração imigrante no mundo de hoje. Mas já tenho vários exemplos de pessoas que não têm nada a ver com a área e que leram e entenderam tudo muito bem", diz.

Outro artifício narrativo utilizado por Bernadete para tornar atrativa a leitura de Brasileiros nos Estados Unidos pelo público menos familiarizado com o texto acadêmico foi excluir as partes que ela considera "mais chatas" de demonstração de algumas teorias que propõe e desenvolve ao longo de sua tese. "Trata-se de material obrigatório numa tese de doutorado - prossegue -, mas completamente desnecessário para um livro que eu pretendia que circulasse com uma amplitude maior e que ajudasse a divulgar uma perspectiva menos de senso comum sobre o assunto".

Artigos e ensaios de estudiosos da migração em massa para os Estados Unidos dão conta de que o empresariado estadunidense apóia a imigração ilegal, pois, assim, teria acesso à uma mão-de-obra mais barata. Na contramão desse pensamento, Bernadete diz que o empresariado americano - carente do tipo de mão-de-obra ofertada pelo imigrante - se submete a conviver e lançar mão da mão-de-obra de trabalhadores "ilegais" porque não há um programa ou lei de imigração que permita que entre trabalhadores no país na quantidade demandada pelo mercado de trabalho. "Só neste sentido eles a apóiam", destaca.

Bernadete diz que há muitas formas de entrar nos Estados Unidos sem documentos, como a novela "América" (exibida pela Rede Globo) mostrou: através dos coyotes e cruzando o deserto e o Rio Grande (que separa o México dos Estados Unidos) ou dos balseiros via Caribe."Mas, entre os brasileiros que estudei, o mais comum era entrar com visto e continuar lá depois do visto expirado. Um caso interessante é o dos descendentes de italianos que têm direito à cidadania italiana e entram nos Estados Unidos com passaporte da comunidade européia", comenta.

As dificuldades enfrentadas pelos sul-americanos para encontrar aceitação social no novo país, na opinião da antropóloga, são imensas. Ela ressalta que a sociedade industrial, capitalista, urbana, dos Estados Unidos, da França ou do Brasil, desenvolveu forte preconceito por tudo que não é urbano, rico e moderno. "Assim, há um preconceito geral, tanto lá quanto aqui, contra tudo que é pobre, subdesenvolvido e atrasado. E é assim que tanto o Brasil quanto toda a América Latina são classificados. É o caso da visão do Nordeste pelo Sudeste aqui, no Brasil", compara.

De um ponto de vista predominante, Bernadete diz que os brasileiros sãos vistos como inferiores, inclusive pelo fato de também serem mestiços, uma vez que a ideologia racial dominante nos Estados Unidos, apesar de todo um trabalho desenvolvido por organizações não-governamentais em nível mundial, é a da pureza racial, fato que, na análise da autora de Brasileiros nos Estados Unidos, se contrapõe à excessiva valorização da raça branca, de origem anglo-saxônica."Então, em geral, comparo o preconceito contra o latino nos Estados Unidos com o exercido contra nordestino no Brasil. É semelhante", enfatiza.

Enfrentar questões como a enorme saudade que os imigrantes sentem do Brasil, agravada pelo rompimento das relações familiares e de amizade e pelas conseqüências do profundo choque cultural, na opinião da antropóloga, depende muito da classe social de que são oriundos aqui no Brasil e de como se integram às esferas sociais dos Estados Unidos. Ela explica que alguns brasileiros, principalmente os mais pobres, sonham a vida inteira em voltar para o Brasil, mas não o Brasil real, que eles deixaram, mas um Brasil fictício que eles constróem para sobreviverem.

No caso particular de Bernadete, a maior dificuldade foi sobreviver sem falar fluentemente o inglês, no início. Ela lembra que sofria demais por não poder se expressar com a mesma fluência com que se expressa na língua materna. O forte senso de individualidade e privacidade do americano também a assustou. "Sentimo-nos rejeitados, até entendermos que é assim que eles funcionam. Senti falta do contato que temos aqui, onde falamos com o outro tocando. Da nossa paquera cotidiana também. Depois vamos descobrindo as várias formas como eles também paqueram e como demonstram as suas emoções", confessa.

Morar nos Estados Unidos foi uma das experiências mais radicais que Bernadete experimentou, embora tenha adorado ter aprendido a sobreviver numa cultura tão diferente. E não apenas pelo idioma, como também pela cultura protestante-calvinista que, segundo ela, ensina a assumir responsabilidade pelo que se faz e não transferir toda a responsabilidade para Deus ou para os governantes. "Descobri que há aspectos da cultura americana, como a pontualidade e a ética do trabalho, que prefiro à impontualidade brasileira e ao desrespeito e exploração selvagem do trabalho no Brasil", conclui.

domingo, 20 de julho de 2008

Vida de Forasteiro (DN, 28 de janeiro de 2006)

Distante das tradicionais análises históricas que reduzem a imigração a um fenômeno meramente econômico, estudos recentes têm procurado lançar novas luzes sobre a condição daqueles que vivem em terras estrangeiras. Doutora em Antropologia pela Universidade da Califórnia, a pesquisadora Bernadete Beserra é autoridade quando o assunto é a imigração de brasileiros para o exterior. Autora do livro "Brazilian Immigrants in the United States: Cultural Imperialism and Social Class nos Estados Unidos" (lançado lá fora em 2003 e que ganha edição nacional como "Brasileiros nos Estados Unidos: Hollywood e outros sonhos"), a professora da Faculdade de Educação da UFC fala ao Caderno 3 sobre os anseios e dramas de brasileiros que buscam construir uma nova vida em outros países. - Dellano Rios

- A migração do cearense já virou até motivo de piada ("encontra-se gente do Ceará em todos os lugares). O que leva esses cearenses a se fixarem em outros países? A questão financeira ainda é o fator principal?As pessoas migram por muitos motivos. No caso do sertão nordestino, em alguns momentos da história, a emigração se apresenta como uma questão de vida ou morte. Rodolfo Teófilo narra esta situação de obrigatoriedade da emigração no romance "A Fome", inspirado pela grande seca de 1877. Mas a emigração para outros países geralmente conjuga outros motivos. Inicialmente era uma migração de ricos, apenas, para estudar, iam se civilizar nos centros coloniais. Ou artistas para a conquista do "sul maravilha" ou Hollywood, etc. Nos últimos 20 anos, outras classes sociais também tem participado desses fluxos migratórios para o exterior. É mais fácil sobreviver como "classe média" trabalhando como babá em Nova Iorque ou Los Angeles, do que sendo professora em Fortaleza. Então, as pessoas arriscam. Além disto, no caso específico dos Estados Unidos, são quase 60 anos de domínio ideológico e cultural sobre quase todo o planeta... As pessoas aprendem desde cedo a sonhar em viver/conhecer tudo que Hollywood propagandeia nas suas telas... principalmente a parte boa, a do consumo sem limites.

- E o que pesa negativamente na hora de escolher um destino? A língua é o principal fator?

Embora a língua seja muito importante, não creio que, em geral, tenha um grande peso na decisão. Conheci muitos brasileiros nos Estados Unidos que mal sabiam dizer "thank you". Os sonhos que o indivíduo construiu sobre o destino são mais importantes... Geralmente sonhos baseados em economias dinâmicas que, hipoteticamente, os levariam à riqueza.

- O Brasil é um país que tem uma presença forte do elemento imigrante em sua formação. Não raras as vezes, os descendentes das gerações mais novas de imigrantes que chegaram por aqui, fazem o caminho inverso e vão aos lugares de onde vieram seus pais. O que explica esse "contrafluxo"?

Quem assistiu "Gaijin: Caminhos da Liberdade" (filme dirigido por Tizuka Yamasaki) sabe por que os descendentes de imigrantes sonham em voltar. Os imigrantes de primeira geração mantêm para sempre a sua terra de origem como referência. A terra que os "expulsou" se torna, às vezes, a própria "terra prometida". E eles acabam passando essa idéia para seus filhos. Há ainda uma certa curiosidade que todos temos de conhecer os mundos dos nossos ancestrais. É como se estivéssemos conhecendo um pouco mais sobre nós mesmos. Mas tal curiosidade é sempre mais forte quando o lugar dos ascendentes é também economicamente dinâmico. Não creio que as pessoas se sintam igualmente motivadas a buscar suas origens negras ou indígenas. A não ser agora, mais recentemente, com a ação afirmativa...

- Em países alguns países estrangeiros, os brasileiros optam por viver em colônias. Outros preferem se inserir nas comunidades nativas. O que determina esse comportamento?

Não sei se é simplesmente uma preferência. A integração na sociedade "anfitriã" depende de vários fatores, eu explico isto no meu livro "Brasileiros nos Estados Unidos: Hollywood e outros sonhos", que estará sendo lançado no próximo mês. O país de origem, a classe social, a cor/raça do imigrante são fatores que interferem decisivamente na integração. A profissão também. Por exemplo, ser artista ou intelectual (acadêmico) amplia um pouco as possibilidades, mas no caso do serviço doméstico a integração é bem mais limitada. Voltando à questão da preferência e das colônias, elas facilitam a sobrevivência em função da língua e dos costumes, mas é também conseqüência da não aceitação dos nativos que os imigrantes se integrem como um deles.

- Lá fora, como os brasileiros confrontam o problema do racismo?

De forma semelhante à forma que confrontamos aqui mesmo. Nos Estados Unidos, que foi onde realizei minha pesquisa, não se enuncia tão claramente como aqui a raça ou etnia do outro: "japa", "negão", "índio", "paraíba", "baiano", etc. Parece que não se percebe estas diferenças, mas se percebe tanto que torna-se complicado sobreviver fora dos lugares próprios dos "latinos", "blacks" (negros) ou "brancos". Em todos os espaços, isto se reproduz: na universidade, nas artes e na distribuição de empregos. Quando morei em Los Angeles, me associei ao programa de ópera para os latinos, cujo presidente, na época, era o Placido Domingos.

- Quando falamos em imigração ilegal de brasileiros, normalmente, pensa-se no caso dos EUA. Há outros países onde as imigrantes de nosso país tentam penetra de forma semelhante? Em caso de resposta afirmativas, como é se dá a reação dessas nações e como é a vida dos brasileiros em seu solo?

Não conheço em profundidade a situação dos brasileiros em outros países, além dos Estados Unidos. Mas vimos, através do caso do brasileiro assassinado pela policia, em Londres, que não é fácil ser ilegal em lugar nenhum. Aqui no Brasil, por exemplo, temos o problema dos bolivianos em São Paulo, vivendo uma semi-escravidão, explorados pela indústria têxtil dominada pelos coreanos. Alguns estudiosos comparam a ilegalidade nos tempos de hoje com a escravidão. Eu acho que é uma situação até mais complicada, mas precisaria de mais espaço para aprofundar tal questão.

- A antropologia fala, positivamente, da sensação de estranhamento que se vivência, em sua própria comunidade, após o contato com outra realidade social. Para os migrantes comuns, quais as conseqüências desse estranhamento quando ele é reintroduzido na comunidade de onde saiu?

O imigrante que retorna, o viajante, vê o que nenhum nativo consegue ver: o mundo sob muitas perspectivas. É bom e é ruim. Aprendemos, por exemplo, que nenhum lugar é perfeito. Não nos contentamos mais tão facilmente. Passamos a viver meio no limbo. Mas é bom porque podemos também nos tornar mais tolerantes, mais compreensivos.

EUA precisam de imigrantes ilegais para baixar salários (DN, 12 de junho de 2005)

Após a publicação do livro Brazilian Immigrants in the United States: Cultural Imperialism and Social Class nos Estados Unidos, em 2003, a pesquisadora Bernadete Beserra, 44 anos, passou a ser mais conhecida fora do País do que no Brasil. Professora da Faculdade de Educação da UFC, tem sido sistematicamente convidada para dar palestras em universidades americanas. Em março, proferiu a palestra de encerramento da conferência Brazilian Immigrants in the United States, promovida pela Universidade de Harvard. A versão em português do livro deve ser lançada em setembro pela Editora Hucitec em parceria com as Edições UFC. Para ela, doutora em Antropologia pela Universidade da Califórnia, a novela América, veiculada pela rede Globo, passa na tangente dos verdadeiros problemas enfrentados pelos brasileiros. Na avaliação da pesquisadora, a imigração ilegal ainda existe nos Estados Unidos devido à falta de um consenso entre a população sobre o assunto. Ela destaca que o problema favorece alguns setores, contribuindo para baixar os salários. Confira.
Marcus Peixoto
editoria de Reportagem

Marcus Peixoto: A senhora estudou a questão dos migrantes brasileiros nos Estados Unidos. É uma realidade muito diferente da apresentada pela novela América?

Bernadete Beserra Toda ficção tem que ter alguma referência na realidade. Na novela, vejo que a discriminação contra brasileiros não é colocada com a mesma clareza da vida real. A novela exagera em vários aspectos para se tornar dramática e para envolver os telespectadores. É assim que a ficção funciona. As novelas não têm o mesmo compromisso com a realidade que têm as ciências. Nesse sentido, os autores estão constantemente variando os ingredientes para mudar o enredo e envolver o público. Vamos começar pelo título, que já é bastante tendencioso: América. Por que designar os Estados Unidos como América, o nome do continente inteiro? Esta é uma questão muito polêmica e bastante questionada principalmente na América Latina. Então, eu acho que a autora já inicia pactuando com essa ideologia, segundo a qual os Estados Unidos é igual a América. Outro problema é que não coloca de uma forma mais realista a distância entre Brasil e Estados Unidos, especialmente na questão econômica.

— Você acha que a novela incentiva outros brasileiros a morar nos Estados Unidos?

Bernadete Beserra- Não tanto como alguns estudiosos estão afirmando. Mas influencia, claro. Alimenta uma idéia já bastante difundida: a de que a vida nos Estados Unidos é mais confortável e cheia de oportunidades do que a daqui, o que, em geral, também é verdade. A novela poderia ajudar a esclarecer questões simples como: os vistos são negados mais sistematicamente aos imigrantes de países do terceiro mundo. Não há, por exemplo, o mesmo problema quando o francês imigra para os Estados Unidos. Há alguns grupos que são mais discriminados. Atualmente, os asiáticos, latinos e africanos. Outro aspecto importante, também não eficientemente abordado, é o da dificuldade com a língua. A novela está longe de imitar a frustração que os brasileiros vivem nos Estados Unidos até dominarem o inglês. Miami tem as suas particularidades: 80% da população é composta por imigrantes latino-americanos, em sua maioria cubanos, e isto facilita muito a nossa integração, já que não há o choque imediato do inglês. Outro ponto que acho fundamental, e este eu acho que a autora da novela aborda bem, é a questão do sonho. Há também um aspecto econômico, das oportunidades que são maiores, além do ideológico, que é o da difusão do “American way of life”, no caso da migração de brasileiros para os Estados Unidos. Acho que o ideológico/cultural pesa muito mais. Embora, na verdade, estejam muito relacionados.

— A senhora tem afirmado que a imigração ilegal não tem sido combatida efetivamente. Por quê?

Bernadete Beserra- Vejamos a história da Sol, a personagem da novela, atravessando a fronteira do México. Foi difícil, sem dúvida, mas atravessou. Será que os Estados Unidos com toda a tecnologia que têm não poderiam fechar essas fronteiras? Claro que sim. Não fazem porque não há um consenso. E eles, principalmente os empresários, precisam da imigração ilegal porque baixa os salários. É por isso que muita gente se assusta quando conhece a posição dos partidos de esquerda em relação à migração. Em geral eles são os mais fervorosamente contrários à livre circulação de pessoas porque temem o impacto que isso teria sobre o mercado de trabalho. Sem falar na provável falência do estado de bem-estar social conquistado pelas populações desses países. E a forma que os nativos têm de lutar contra isso é se colocando contra a imigração. Se todos os imigrantes fossem automaticamente legalizados, haveria um crescimento absurdo do exército industrial de reserva e isto baixaria os salários radicalmente e aprofundaria os conflitos já existentes nessas sociedades. A ilegalidade não deixa de ser um controle sobre essa situação. Sou a favor da livre circulação de pessoas em todo o planeta. O nosso mundo deveria ser global não apenas para o capital, também para as pessoas.

— Na sua pesquisa, verificou-se um ganho de qualidade de vida dos imigrantes, ou levam uma vida com menos oportunidades do que levariam no Brasil?

Bernadete Beserra- No meu trabalho, mostro que as alternativas dos brasileiros nos Estados Unidos estão muitos ligadas com as próprias alternativas deles no Brasil. As oportunidades são relacionadas muito às classes sociais. Agora, se você me pergunta, do ponto de vista material, do conforto, a vida nos Estados Unidos é mais confortável do que no Brasil? Sim. Eles produziram uma tecnologia de conforto que está muito longe da nossa realidade. Muitos brasileiros, com o mesmo tipo de emprego que têm lá, jamais conseguiriam comprar um carro aqui. E lá eles conseguem o carro e se encantam com isso. Há também outros fatores a se considerar: a língua, a religião, enfim, é uma cultura diferente da nossa e existe muito mais a se considerar além do conforto material.

— Como a discriminação racial manifesta-se contra esses grupos de imigrantes?

Bernadete Beserra- Em geral manifesta-se da mesma forma que aqui. A diferença é que os americanos são mais sutis, mais polidos e desenvolveram bastante bem a instituição da indiferença. Por exemplo, ao invés de torcer o nariz quando se encontra com alguém mais pobre, mais escuro ou mais feio, eles se comportam como se o outro não existisse. Eles fazem isto tão bem que, em alguns casos, eu mesma cheguei a duvidar da minha materialidade. Será que eu havia desencarnado sem perceber? O resto é muito semelhante. O preconceito e a discriminação que há contra os latinos, e lá os brasileiros são classificados como latinos, são semelhantes àqueles que há contra nordestino no Rio, São Paulo e outros Estados do Sul/Sudeste. Então, não importa quão importante você é aqui no Brasil, chegando aos Estados Unidos há uma desvalorização quase automática. Ou seja, seja lá o que você tenha, ou seja, você sempre será um latino num país de hegemonia anglo-saxônica.

— Esse racismo chega a ser opressivo ou sofreu alterações ao longo dessas décadas?

Bernadete Beserra- Toda discriminação ou racismo é opressivo. Pode ser mais sutil ou mais aberto. Quando você chega em São Paulo e fala com o seu sotaque nordestino e as pessoas lhe olham diminuindo, é desconfortável, né? A mesma coisa em qualquer lugar do mundo. Pode ser mais violento, mais agressivo ou mais passional, mas é sempre ruim. Desde 2000, estou estudando as relações raciais em Fortaleza, a partir do caso dos alunos dos Cursos de Pedagogia e Educação Física da UFC. Vejo que há diferenças entre a forma como as pessoas se identificavam em 2001, 2002 e 2003 e agora. Quando antes eu perguntava quem era negro, ninguém levantava a mão. Agora muitos já têm a coragem de levantar. Afinal, a negritude não está mais somente relacionada a coisas negativas, como historicamente tem sido. Ou seja, hoje já há alguma vantagem em se assumir negro.

— O que o 11 de Setembro alterou na questão do preconceito e das diferenças raciais nos Estados Unidos?

Bernadete Beserra- O 11 de Setembro talvez tenha radicalizado uma situação que já existia, a da discriminação de certos grupos de imigrantes. A data, simplificadamente, agravou a discriminação contra um grupo específico de imigrantes, os árabes, ou uma parte do mundo árabe: os muçulmanos. Outros grupos foram atingidos porque o esquema de segurança montado a partir de então atinge a todos. Mas a imprensa difundiu o pavor a este grupo específico, então a vida daqueles que se assemelham físico ou culturalmente aos muçulmanos tornou-se muito mais difícil. Criou-se uma relação e um estigma. E um medo generalizado de imigrantes. Claro, ficou pior para todo mundo.

— Pesquisa de opinião realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2003 mostrou que 87% dos brasileiros acreditam que há racismo no Brasil. Curiosamente, somente 4% dos entrevistados reconhecem que são racistas. Existe racismo sem racistas?

Bernadete Beserra- Claro que não. Todas as pessoas socializadas numa sociedade racista são racistas. Eu sempre digo que o problema não é ser racista, mas, uma vez consciente disto, continuar racista e defender o racismo. Aqui no Brasil é interessante porque o mito da democracia racial nos convenceu de que não somos racistas; os americanos é que são. Racista é quem é segregacionista, ou seja, os americanos e os sul-africanos. E é claro que o racismo segregacionista é apenas uma expressão do racismo. O nosso se expressa de forma diferente. Eu geralmente faço essa pergunta aos meus alunos e eles não se vêem como racistas. Ficam horrorizados com tal possibilidade. Mas aí começamos a observar a discriminação que há contra os mais escuros no Brasil e todos acabam reconhecendo muitas das suas atitudes como racistas. Esse reconhecimento é o primeiro passo para uma mudança no comportamento...

— Até que ponto a miscigenação foi positiva para o Brasil?

Bernadete Beserra- A miscigenação é sempre positiva. As ideologias coloniais, principalmente as produzidas pelos anglo-saxões, criaram o mito de que a mestiçagem é algo negativo. A Ciência já provou que não é verdade que a mestiçagem produz limitações intelectuais ou morais, como se acreditava no tempo do Conde de Gobineau, no final do Século XIX e início do Século XX. Isso já foi superado.

— Qual sua avaliação sobre os movimentos em torno das Ações Afirmativas?

Bernadete Beserra- Em geral, acho muito positivo. Acho bom que discutamos abertamente as relações raciais no Brasil. O silêncio que mantivemos sobre o assunto não beneficiou em nada os que sofrem as suas conseqüências. Vejo no Brasil as coisas acontecendo ao contrário. Somente depois que o governo decidiu implementar o Programa de Ações Afirmativas é que o País se deu conta de que era racista. Por que essa discussão não aconteceu antes? Em princípio, sou a favor das cotas, acho interessante a idéia da compensação de perdas produzidas historicamente pela discriminação. O problema do Brasil é definir quem é negro, ou seja, quem vai ser beneficiário. Os mais discriminados provavelmente fiscalizarão o processo, não sei. Só sei que a morenidade em si não é um problema no Brasil, muito pelo contrário. A discriminação é sempre contra os mais escuros e um conjunto de outras características